Naval: Novo Comandante da Milícia na Zona Oeste do Rio

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O Comando da Milícia na Zona Oeste do Rio: Perfis e Dinâmicas de Poder
A complexa teia de crime organizado no Rio de Janeiro continua a se desenvolver, especialmente nas comunidades da Zona Oeste. Após a morte de Rui Paulo Gonçalves Estevão, conhecido como Pipito, a liderança da maior milícia da região passou a ser comandada por Paulo David Guimarães Ferraz da Silva, ou Naval. Neste artigo, vamos explorar como a ascensão de Naval impactou o controle territorial e as operações da milícia, assim como o perfil dos envolvidos nesse cenário violento.
A Ascensão de Naval ao Comando
Contexto Histórico
Naval, com 31 anos de idade, tornou-se um nome conhecido após a morte de Pipito, que era o braço direito de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. Zinho, agora preso, era o líder da milícia e seu comando se fragmentou após várias perdas, criando um vácuo de poder que Naval rapidamente aproveitou.
O Comando das Comunidades
Na estrutura da organização criminosa, Naval não apenas herdou o poder de Pipito, mas também conquistou uma posição de domínio nas comunidades do Barbante, Vila Carioca, Antares e Rola. A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizandas (Draco-IE) identificou Naval como o principal braço armado do grupo, controlando um arsenal impressionante com "centenas de fuzis sob seu domínio."
Operações e Mecanismos de Controle
A Coleta de Tributos
Naval já administrava os negócios ilícitos na Favela do Barbante antes da queda de Pipito. A partir de uma reunião da milícia, foi-lhe concedido poder sobre as comunidades de Antares e do Aço, em Santa Cruz. Contudo, Naval escolheu operar de maneira indireta, colocando um miliciano de confiança à frente dessas operações. Assim, ele age como um intermediário, recebendo um percentual das receitas geradas por atividades ilegais como taxas de segurança, cobranças de pedágio irregular e venda de sinal clandestino de TV a cabo.
O Modelo de Arrendamento
Essa estratégia de "arrendamento" permite que Naval mantenha um controle financeiro sem se expor diretamente. O delegado João Valentim, da Draco-IE, esclareceu que ele designou um sócio de confiança para explorar os negócios nas comunidades, garantindo assim uma fatia das arrecadações. Esse modelo não só aumenta o lucro, mas também dificulta a ação das forças policiais, uma vez que a hierarquia da milícia se torna mais descentralizada.
Perfil dos Milicianos e Conflitos Internos
A Conexão com os Irmãos Braga
Naval é considerado um dos homens de confiança dos irmãos Braga, Carlos Alexandre Braga (Carlinhos Três Pontes) e Wellington da Silva Braga (Ecko). Ambos foram mortos em confrontos com a polícia em 2017 e 2021, respectivamente. A morte deles deixou um legado de violência, mas também um espaço que Naval se apressou em ocupar.
O Assassinato de Jerônimo Guimarães
Um dos crimes mais notórios associado a Naval foi o assassinato do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, conhecido como Jerominho. Acusado de ser um dos fundadores da milícia Liga da Justiça, Jerominho foi executado em agosto de 2022 em plena luz do dia, ano que estava marcado por uma guerra interna pela dominação da milícia. Este crime demonstra como a luta pelo poder dentro da organização é intenso e mortal.
A Motivações e Consequências
O assassinato de Jerominho foi ordenado por Zinho, que temia que seu antigo aliado tentasse retomar o controle da milícia. A execução foi uma clara mensagem sobre a intenção de Naval e Zinho de consolidar seu controle e eliminar seus rivais. Não só isso, mas também criou um clima de temor nas comunidades dominadas, com muitos cidadãos temendo represálias caso se posicionassem contra a milícia.
Desdobramentos Recentes
A Fragmentação do Poder
Com a entrega de Zinho à Polícia Federal em dezembro de 2023, as operações da milícia começaram a ser fragmentadas. A região anteriormente controlada por Zinho agora nas mãos de diversos milicianos, entre eles Naval e outro paramilitar conhecido como Boi, mostra uma nova dinâmica de poder emergente nas comunidades.
Disputas Territoriais
Analisando o ciclo de violência, em abril de 2023 Alan Ribeiro Soares, conhecido como Nanã ou Malvadão, foi assassinado em um tiroteio com milicianos rivais, destacando as constantes disputas por território que ainda permeiam o ambiente. Naval, que já teve seu poder conquistado através de uma combinação astuta de estratégias e brutalidade, agora precisa navegar em um cenário de competições internas.
A Resposta das Autoridades
Operações Policiais
As forças de segurança têm intensificado suas operações na Zona Oeste, visando desmantelar os grupos milicianos que operam na região. A Polícia Civil recentemente prendeu quatro suspeitos de integrar a milícia de Naval, revelando a persistente luta contra o crime organizado.
O Futuro das Comunidades
O impacto das ações policiais em áreas dominadas por milícias é complexo. A repressão frequentemente leva a um vácuo de poder que pode ser preenchido por novos grupos criminosos ou a acentuação da violência. A permanência da população nessas comunidades fica muitas vezes comprometida, com a falta de serviços públicos e a constante pressão de grupos armados.
Conclusão
A megalópole do Rio de Janeiro enfrenta um cenário desafiador em relação ao crime organizado, e a ascensão de Naval ao poder dentro da milícia é um reflexo das tensões e antagonismos persistentes. O controle sobre as comunidades é sustentado por uma combinação de amparo financeiro e brutalidade, e a luta pela dominância parece longe de acabar. As autoridades, por outro lado, devem continuar a se adaptar a essa realidade em constante mudança.
É essencial reconhecer que a luta contra as milícias, como é vista na Zona Oeste do Rio, requer um esforço conjunto que não envolve apenas as forças policiais, mas também iniciativas sociais que busquem reconstruir a confiança nas comunidades antes dominadas pelo crime.
Referências
- Imagens retiradas de sites com licença de uso gratuito ou domínio público, e gratuitas de direitos autorais.
- Dados e análises baseados nas investigações realizadas pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizandas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) e veículos de imprensa.
Com esse panorama, é vital que se promova um diálogo contínuo sobre como prevenir que a violência e a criminalidade se perpetuem, buscando soluções que envolvam justiça e inclusão social nas comunidades afetadas.
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