Prefeitura do Rio cria grupo para Força Municipal de Segurança

Prefeitura do Rio cria grupo para Força Municipal de Segurança

A Criação da Força Municipal de Segurança no Rio de Janeiro: Desafios, Oportunidades e Polêmica

Nos últimos meses, a segurança pública no Rio de Janeiro tem sido um tema recorrente nos noticiários, principalmente com a proposta de criação da Força Municipal de Segurança, anunciada durante a cerimônia de posse do prefeito Eduardo Paes. Esse movimento é visto como uma tentativa de resposta às crescentes inseguranças da cidade, mas também levanta questões pertinentes sobre sua viabilidade e eficácia. Neste artigo, vamos explorar os detalhes dessa nova iniciativa, incluindo a estrutura planejada, as preocupações de especialistas e as implicações para a Guarda Municipal e a segurança pública em geral.

O Contexto da Criação da Força Municipal de Segurança

A ideia da Força Municipal de Segurança surge em um momento em que o Rio de Janeiro enfrenta uma série de desafios de segurança pública. A falta de uma estratégia coesa e integrada para lidar com a criminalidade tem sido uma crítica comum em várias administrações. Durante sua posse, Eduardo Paes enfatizou a importância de um órgão que atue em complementaridade com as forças estaduais, mas a proposta também deixou muitos questionamentos no ar.

Um Grupo de Estudo para Delimitar a Ação

A Prefeitura do Rio de Janeiro, até o momento, não possui uma secretaria específica para a Força Municipal de Segurança. Para analisar e propor ações concretas, foi constituído um grupo de estudo, coordenado pelo Gabinete do Prefeito, que contará com o apoio da Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia de Apoio à Segurança Pública (Civitas). A previsão é de que, ainda em fevereiro, o prefeito encaminhe um projeto de lei à Câmara Municipal para formalizar a criação desse novo órgão.

A Estrutura Planificada

O decreto publicado no Diário Oficial do Município exige que o grupo de especialistas e entidades de classe seja definido na sequência. A estrutura da força, conforme anunciado, deve ser armada e não deverá atuar em áreas dominadas por facções criminosas ou milícias. Esse planejamento reflete uma ideia de restrições na atuação da nova força, mas levanta também a questão das áreas efetivamente seguras para o seu trabalho.

Polêmica em Torno da Medida

Embora a proposta tenha sido recebida com aplausos em alguns setores, especialistas em segurança pública expressaram preocupações sobre suas implicações. José Vicente da Silva Filho, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, destacou que essa nova estrutura poderia enfraquecer a atuação da Guarda Municipal, que já tem uma experiência consolidada e procedimentos definidos ao longo de suas décadas de operação.

A Risco da Militarização

Um dos pontos mais críticos levantados por especialistas é a possível militarização da segurança pública com a inclusão de ex-integrantes das Forças Armadas. A ideia de recrutamento desses indivíduos, através do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, pode aumentar os índices de letalidade, como evidenciado em casos passados envolvendo confrontos com a polícia.

“Toda vez que se militariza mais a segurança pública, a gente percebe que a polícia cresce em letalidade, mas não leva à pacificação necessária”, comentou José Vicente, alertando para as consequências de uma abordagem militarizada sem a devida preparação para lidar com a complexidade social da capital carioca.

Questões Constitucionais

A criação da Força Municipal de Segurança enfrenta também barreiras legais e constitucionais. O artigo 144 da Constituição Brasileira deixa claro quais são as funções de cada esfera de governo em relação à segurança pública. Coronel Robson Rodrigues, ex-comandante da Polícia Militar e cientista social, comentou que a nova estrutura deve respeitar essas delimitações.

A Importância da Prevenção Social

Embora um maior poder de atuação na segurança pública seja uma exigência legítima, ειδικά nas áreas com altos índices de violência, Robson Rodrigues enfatiza que o município já tem liberdade para atuar em ações de prevenção que são essenciais para combater a criminalidade. Investimentos em educação, cultura e promoção social são pontos críticos para uma abordagem integrada que possa realmente fazer a diferença.

“Se você puder mapear onde estão esses jovens em situação de vulnerabilidade social, o município poderá contribuir fundamentalmente para prevenir o aumento do crime”, afirmou Rodrigues. Essa visão propõe um modelo em que a prevenção é priorizada e onde o município colabora na criação de alternativas viáveis para os indivíduos de comunidades mais afetadas pela violência.

O Papel da Tecnologia na Segurança Pública

Ainda no âmbito da inovação na segurança pública, o prefeito Eduardo Paes anunciou a extinção de inspetorias da Guarda Municipal, substituindo essas estruturas por programas que serão fortalecidos através do uso de tecnologia, como o sistema de câmeras no BRT Seguro. Essas iniciativas visam não apenas monitorar, mas também otimizar a inteligência principalmente em áreas críticas.

Políticas Afirmativas e Inclusão Social

Combater a violência não deve ser a única prioridade da nova Força Municipal de Segurança. As políticas afirmativas são igualmente necessárias. Ao criar um projeto de integração entre estado e município, haverá um espaço para propostas que foquem em educação e promoção da cultura, áreas que podem abrir oportunidades para os jovens e, assim, criar um ambiente menos propenso ao envolvimento com o crime.

Conclusão

A proposta de criação da Força Municipal de Segurança no Rio de Janeiro é um tema carregado de expectativas e incertezas. Enquanto algumas vozes elogiam a iniciativa como um passo importante na luta contra a criminalidade, outras expressam preocupações legítimas sobre a eficácia e as implicações de um sistema que pode trazer à tona problemas preexistentes, como a militarização e o impacto sobre a Guarda Municipal.

É essencial que essa nova estrutura seja bem planejada e que as lições do passado sejam levadas em consideração para criar um sistema de segurança que não apenas seja eficaz em resposta a crises, mas que também promova a paz a longo prazo através de políticas que enfrentem as causas da violência e da insegurança à sua raiz. A discussão continua, e o futuro da segurança pública no Rio está em jogo.


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