Preocupação com isenção de tarifas para laticínios e vinhos

Preocupação com isenção de tarifas para laticínios e vinhos

Publicidade

Perspectivas do Acordo entre União Europeia e Mercosul para o Setor Lácteo

Na próxima semana, o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat) se reunirá com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) para discutir o impacto do recente acordo entre a União Europeia e o Mercosul sobre a indústria de laticínios brasileira. Este tratado promete desdobramentos significativos na dinâmica do mercado de produtos lácteos, especialmente no que diz respeito à entrada de laticínios europeus com isenção de impostos, o que coloca em xeque a competitividade dos produtos nacionais.

O Acordo e Seus Reflexos no Setor Lácteo

O acordo entre os blocos econômicos da União Europeia e do Mercosul estabelece que produtos como leite em pó, manteiga, queijo e vinhos produzidos na Europa poderão entrar no Brasil e em outros países do Mercosul sem a incidência de impostos. Com isso, os produtores gaúchos, já pressionados pela concorrência de produtos importados da Argentina e Uruguai, estarão ainda mais vulneráveis.

A retirada de tributos, que chega a 28% sobre o leite em pó e 16% sobre manteiga e queijo, pode originar uma invasão de produtos mais baratos no mercado brasileiro. Essa situação leva os produtores locais a se prepararem para uma batalha pela sustentabilidade de suas operações.

A Preocupação dos Produtores Gaúchos

Os pecuaristas gaúchos expressam preocupações legítimas sobre a capacidade de enfrentar esse novo cenário. Palharini, representante do Sindilat, destaca que a competitividade do leite brasileiro está intrinsicamente ligada à eficiência na produção. Atualmente, uma vaca no Brasil produz, em média, 6,5 mil litros de leite por ano, enquanto na Europa, a média é superior a 10 mil litros. Essa diferença de produtividade se deve a técnicas de manejo, genética dos animais e qualidade da alimentação.

Mudar o perfil da produção exige tempo e investimento significativo. O processo de substituição de animais comuns por raças de alta qualidade pode levar de cinco a sete anos, exigindo que ações para melhorar a produtividade sejam iniciadas o quanto antes.

Desafios e Oportunidades de Modernização

Além da competição com produtos importados, o Sindilat aponta que a redução de impostos também pode trazer oportunidades para os produtores locais. Os tributos que incidem sobre a importação de equipamentos de modernização, como robôs para ordenha, variam de 15% a 25%. Com uma média de preço em torno de R$ 1,3 milhão, a modernização torna-se um desafio quase intransponível para pequenos produtores. A isenção desses tributos pode facilitar o acesso à tecnologia, permitindo que pequenos e médios pecuaristas se atualizem e ganhem eficiência.

Alternativas para a Indústria Láctea

Para sobreviver ao novo cenário, os produtores precisam se articular e buscar apoio tanto do governo quanto de entidades do setor. Algumas estratégias incluem:

  1. Investimento em Genética: Fomentar a compra de animais de raças que garantam maior produtividade e qualidade do leite.
  2. Aprimoramento do Manejo: Melhorar as práticas de cuidados e alimentação dos rebanhos para aumentar a eficiência produtiva.
  3. Modernização das Instalações: Buscar meios de obter financiamento ou isenção tributária para a aquisição de tecnologia que permita a modernização do processo produtivo.
  4. Promoção de Produtos Locais: Exigir que o governo promova campanhas para valorizar o leite e produtos derivados produzidos localmente, destacando a importância da segurança alimentar e do apoio à economia local.

O Papel do Consevitis-RS e os Desafios da Vitivinicultura

Outro setor que busca atenção em meio a esse novo contexto é o vitivinícola. O Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado (Consevitis-RS) se mobiliza para excluir o vinho brasileiro da abrangência do Imposto do Pecado, que encareceria substancialmente os preços de bebidas. A proposta de Luciano Rebellatto, presidente do Consevitis, é classificar o vinho como complemento alimentar, ressaltando seu valor cultural e nutricional.

Conclusão

Com a abertura do mercado às importações europeias de laticínios, os desafios para a indústria brasileira serão profundos e exigirão respostas ágeis e coordenadas por parte dos produtores, associações e governo. O impacto do acordo entre União Europeia e Mercosul não diz respeito apenas a questões econômicas, mas também à segurança alimentar e sustentabilidade da produção local.

A discussão que ocorrerá na próxima semana entre o Sindilat e a Seapi será crucial para delinear estratégias que visem não apenas a sobrevivência, mas também o fortalecimento da indústria de laticínios no Brasil. O futuro da produção láctea gaúcha depende da capacidade de adaptação e inovação em um mercado global cada vez mais competitivo.

Publicidade

Publicidade