TRT de SP contraria STF e estabelece vínculo no iFood

TRT de SP contraria STF e estabelece vínculo no iFood

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A Relação Entre Entregadores de Aplicativos e o Vínculo Empregatício: Um Panorama da Justiça do Trabalho no Brasil

A discussão sobre o vínculo empregatício entre entregadores de aplicativos e as plataformas para as quais prestam serviço continua a gerar debates acalorados no Brasil. Recentemente, uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT 2) desafiou entendimentos prévios, criando um novo cenário de incerteza jurídica para os envolvidos nesse modelo de trabalho.

Contexto Histórico da Questão

Na última década, o crescimento das plataformas de entrega, como iFood e Uber Eats, criou uma nova realidade no mercado de trabalho brasileiro. A flexibilidade e a autonomia prometidas aos motoristas e entregadores tornaram-se atrativas para muitos, mas a falta de uma legislação clara sobre suas condições de trabalho gerou apreensão. Até o momento, o Supremo Tribunal Federal (STF) havia decidido que não existem vínculos empregatícios entre esses trabalhadores e as plataformas.

Mudanças Recentes no Judiciário

Em uma recente Ação Civil Pública movida em 2021 pelo Ministério Público do Trabalho, o iFood foi condenado a pagar R$ 10 milhões por não reconhecer o vínculo trabalhista de seus entregadores. A decisão dos desembargadores da 14ª Turma do TRT 2 foi importante, pois reverteu uma sentença anterior que negava essa relação de emprego, alegando que o trabalho se dava apenas na condição de autônomos.

  • Voto do TRT 2: A nova decisão determina que o vínculo empregatício é reconhecido contabilizando as horas efetivamente trabalhadas, ou seja, entre o recebimento da chamada até a entrega das mercadorias. Essa interpretação cria uma inovação na forma de calcular as horas de trabalho e traz à tona discussões sobre sua viabilidade no atual contexto legal.

Desdobramentos e Implicações da Decisão

A condenação do iFood não possui efeito imediato, visto que a empresa já anunciou sua intenção de recorrer. A argumentação do iFood é de que a decisão gera insegurança jurídica, pois estabelece um modelo que não seria viável diante da dinâmica do trabalho por aplicativo.

Projeto de Lei em Tramitação

Dentro desse cenário confuso, há um Projeto de Lei Complementar na Câmara dos Deputados que busca regulamentar o trabalho de motoristas e entregadores, considerando apenas o tempo efetivo de trabalho e não o período em que os trabalhadores estão logados. No entanto, esse projeto ainda não foi discutido amplamente.

O Papel do Supremo Tribunal Federal

O STF deverá ser um ator central nas futuras definições sobre a matéria. Na próxima semana, o Supremo realizar uma audiência pública com o objetivo de discutir o vínculo em um processo envolvendo a Uber. Espera-se que isso resulte em uma jurisprudência que sirva como base para milhares de casos semelhantes que ainda estão pendentes.

Expectativas e Preocupações do Setor

As recentes decisões têm deixado executivos do setor apreensivos. A incerteza em relação ao vínculo empregatício pode impactar na modelo de negócio das plataformas, que dependem da flexibilidade e da adaptação rápida.

André Porto, diretor-executivo da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), ressaltou a necessidade de uma regulamentação eficaz que reconheça o trabalho autônomo, assegurando direitos e uma estruturação que favoreça todos os envolvidos. A proposta é firmar novas leis que protejam os trabalhadores sem prejudicar a operação das plataformas.

Conclusão

O cenário atual, caracterizado por decisões divergentes entre a justiça trabalhista e as posições do STF, evidencia a urgência de uma regulamentação clara sobre o vínculo entre entregadores de aplicativos e as plataformas. Uma definição que reconheça tanto os direitos dos trabalhadores quanto a dinâmica operacional das empresas é essencial para consolidar um mercado de trabalho mais justo e equilibrado.


Esse artigo propõe um olhar crítico sobre as incertezas relacionadas ao vínculo empregatício entre motoristas e entregadores de aplicativos, visando trazer à tona as discussões que devem ocupar espaço nas esferas legislativas e judiciais nos próximos meses. A expectativa é que, com um avanço normativo, as relações de trabalho no setor possam ser melhor definidas em benefício de todos.

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